Este foi meu primeiro ano sem faculdade ou cursos: a perfeita oportunidade para realizar um sonho antigo: ler TUDO o que EU desejasse. O resultado foi bem interessante e é o conteúdo deste post que, sem dúvidas, é um dos que mais gosto de escrever neste blog. :)
Platão
Para meu segundo livro (mês que vêm!) optei por um formato bem diferente daquele que os leitores de material técnico estão acostumados (vocês verão). Este formato é influenciado principalmente por Platão, sendo assim, nada mais natural que ele me acompanhasse neste ano, e que companhia!
Já havia lido Platão antes do curso de Filosofia e durante também, mas confesso que nunca me chamou tanto a atenção tal como observo em alguns amigos: não caio na sedução platônica. Já aviso: raríssimas vezes Platão realmente diz algo – é o rei da aporia – mas seus diálogos quando te pegam de jeito não te soltarão jamais. Foi o que ocorreu comigo. Aqui segue a lista daqueles que me mudaram este ano:
A República – Já a havia lido parcialmente, mas nunca inteira e neste ano cheguei a uns 80%. É fascinante: Platão vai desenvolvendo a ideia do que considera ser um Estado perfeito. É na República em que aparece a alegoria da Caverna (já escrevi sobre ele aqui, mas você pode saber mais a respeito vendo este vídeo), que é o mito fundador da civilização ocidental.
Lendo o modo como Platão vai descrevendo este Estado perfeito não me sai da cabeça aquela sensação de estar assistindo uma partida de Warcraft ou qualquer outro jogo de estratégia. É interessante, e apesar de Platão não chegar a quase nenhuma conclusão, é bacana de se ler, mas não é o que mais me chama a atenção. O que realmente me fascina é o diálogo de Sòcrates com Trasímaco no LIvro I. Trasímaco nos ataca afirmando que a “justiça é a conveniência do mais forte”. Sócrates até tenta provar o contrário, mas se você ler com um pouco mais de atenção, perceberá que a contra-argumentação exposta é bem… furada. :)
Laches – Neste diálogo Platão busca a definição da coragem (ou bravura). O que torna alguém uma pessoa corajosa? Claro: não haverá uma boa resposta, mas o que aprendemos é que a distinção entre o corajoso e o tolo normalmente não é clara. Por que vale à pena ler este texto tão pequeno? Ele te faz repensar aqueles momentos em que você se considerou corajoso e na realidade foi apenas um bobo.
Stephen King!
Houve um diálogo aqui em casa que me levou a ler Stephen King:
<Nanna> – Já leu Stephen King?
<Kico> – Não.
<Nanna> – COMO??? Há uma lacuna em sua formação!
<Kico> – Mas o Stephen King é vivo e faz muito sucesso. Aposto que é ruim Nanna! Deve ser tipo um Romero Britto da literatura!
<Nanna> – Você comeu cocô é?
No dia seguinte vi varios livros de Stephen King arremessados em minha direção. Só digo uma coisa: como fui preconceituoso e tolo! Stephen King foi a maior descoberta literária do ano para mim! Terminava um e iniciava outro quase que imediatamente. Mais do que isto: me fez ver que você pode arquitetar um texto literário. E ei! No meio do caminho ainda escrevi um esboço de romance que será meu quarto livro! Dois livros me marcaram.
Carrie: a estranha – já havia visto o filme original e achava bem bacana, então acabou sendo o primeiro livro de King que li. ORGÁSMICO. Pequeno e profundo. Terminado você perceberá o claro: somos Carrie.
Esperava algo como uma história de terror padrão, mas não! No meio de um parágrafo aparece o próprio autor e começa a dialogar com você, e o modo como notícias de jornal, narrativa, pensamentos de Carrie e o próprio autor alternam entre si mudou radicalmente o modo como eu pensava o próprio ato de escrever. Este livro foi meu assunto principal por MESES.
Ah, e a história? Uma menina sem graça que é zoada na escola ao máximo, mas que tinha poderes telecinéticos e os usará para destruir todos os seus colegas e professores em um baile de formatura. Só isto.
Misery – QUE COISA GENIAL E CRUEL!!! De novo o argumento simples: um autor de romances baratos (tipo Sabrina) que sofre um acidente de carro e é sequestrado por uma fã psicótica que o prende em uma cama e o tortura das piores maneiras. Há um bom filme baseado no livro cujo trailer você pode ver aqui.
Ok, uma história simples, qual a genialidade? A metalinguagem: o protagonista é um escritor? Por que não mostrar o processo criativo envolvido na escrita de um livro? E isto é feito de uma forma muito bacana: você se vê DENTRO do processo criativo, desde sua forma mais tosca até a mais avançada. GENIAL!
(sim, Stephen King atrasou meu livro sobre Grails, mas acho que valeu à pena, pois há “aspectos King” nele)
Literatura técnica
Grails – provavelmente neste ano li todos os livros já publicados sobre o assunto e confesso ter ficado muito decepcionado com o que encontrei. Isto irá gerar um novo post em breve no formato “bibliografia comentada”.
Steve McConnell!
Um dos livros mais importantes para minha formação foi o “Code Complete” do Steve McConnell. Imagine minha alegria este ano quando, em uma conversa com um amigo, este me indica mais DOIS livros do Steve McConnell? Os dois livros que irei citar podem ser comprados na Amazon para o seu Kindle, que foi o que usei para lê-los. :)
Software Project Survival Guide – Uma visão muito pé no chão a respeito do modo como projetos de software devem ser conduzidos. Trata-se de um livro antigo, se não me engano este foi publicado na década de 90, antes de todo o hype envolvendo metodologias ágeis, o que talvez lhe agregue um imenso valor, pois nos mostra alguns aspectos destas metodologias ANTES das mesmas terem se popularizado.
Me fez repensar diversas coisas sobre o modo como eu via a gestão de projetos e também sobre o modo como devo conduzir aqueles que gerencio (2015 promete). São expostas soluções práticas e factíveis para diversos problemas que enfrentamos em nosso dia a dia. Leitura recomendadíssima!
Software Estimation: demystifying the Black Art – este livro me fez repensar de forma profunda o modo como faço minhas estimativas e, acredito, após sua leitura me tornei muito melhor nesta tarefa.
Vai ser exposta uma visão crítica de alguns métodos de medição e também serão expostos alguns exercícios muito interessantes. Dica: faça-os! Leia com muita atenção este livro, pois finalizada sua leitura você irá adquirir uma bagagem conceitual importante para lidar com este tipo de tarefa e que lhe ajudará demais a lidar melhor com seus clientes e colegas de trabalho.
Minha seleção de uma mina quase infinita de livros técnicos gratuitos!
Este ano descobri um projeto no GitHub fantástico: o Free Programming Books (guarde este link!). Há uma infinidade de livros gratuitos de programação neste site, muitos dos quais são simplesmente fantásticos. Segue abaixo uma pequena seleção.
Software Architecture – A. Bijlsma, B.J. Heeren, E.E. Roubtsova, S. Stuurman – Este livro é um achado. Trata-se de uma introdução bem superficial à Arquitetura de Software que é usado em alguns cursos de graduação. É bacana para se aprender e transmitir conceitos, e estou indicando para diversos amigos que desejam entrar na área. Link.
Making reliable distributed systems in the presence of software errors – Joe Armstrong (um dos criadores do Erlang) – Neste paper o autor busca responder a pergunta que lhe dá o nome. É uma leitura interessantíssima se você se interessa pela escrita de sistemas REALMENTE robustos e tem alguma curiosidade a respeito do Erlang. E a leitura é bastante tranquila, pois trata-se de uma prosa muito bem escrita. Link.
Guide to Software Engineering Book of Knowledge – Pense em um PMBOK voltado para o desenvolvimento de software. Soa chato e o texto é chato, mas fornece uma visão global sobre o desenvolvimento de sistemas que tratará de temas pouco falados aqui no Brasil como, por exemplo, economia e manutenção de legados. Vale à pena a leitura pelo menos para abrir um pouco nossa cabeça sobre processo de desenvolvimento. Link.
Manager’s Handbook for Software Management – NASA – A NASA tem um altíssimo nível de sucesso no gerenciamento de projetos de software. E ei: já quis saber como a NASA gerencia seus sistemas? Se esta curiosidade já passou pela sua cabeça, o link é este!
Don’t just roll the dice – Neil Davidson – Como cobrar pelo seu trabalho? Esta é a pergunta fundamental que o livro tenta responder. É um texto curto mas bastante rico e que cumpre o que promete: me fez repensar bastante o modo como cobro pelo meu trabalho. Link.
Livros gratuitos sobre SQL Server no site da Red Gate!
Neste ano lidei três vezes com projetos nos quais foi adotado o SQL Server. Como meu conhecimento sobre o assunto era mínimo, precisei fazer uma pesquisa a respeito e por sorte topei com um site FENOMENAL com livros gratuitos sobre o tema.
Trata-se do site da empresa Red Gate (o “Don’t just roll the dice” citado acima é deles!), no qual é possível baixar todo este material extremamente bem escrito. Li o livro deles sobre plano de execução do SQL Server e também sobre programação defensiva. Baixe este maravilhoso conteúdo neste link.
Qual linguagem de programação comecei a aprender este ano? FORTH
Uma que provavelmente jamais irei usar e você também não: FORTH! Trata-se de uma linguagem baseada em pilhas e que só vi ser usada uma vez em um sistema de controle de radares. É um exercício interessante para tirar algumas idéias.
A beginner guide to Forth – O nome já diz tudo. Link
Programming Forth – Stephen Pelc – Mais um texto introdutório e bem agradável sobre a linguagem. Link.
Por que quis aprender Forth? Simples curiosidade. :)
A melhor documentação que li este ano: Spring Batch
Vou iniciar um projeto que envolve processamento em lote e na pesquisa que fiz topei com o Spring Batch. Se você se interessa neste tipo de aplicação, a documentação do Spring Batch é leitura obrigatória MESMO QUE VOCÊ NÃO USE O PRODUTO.
Ela expõe a visão arquitetural por trás deste nicho e apresenta alguns erros comuns. É uma leitura muito enriquecedora. Link.
Concluindo
Todo ano espero pelo dia no qual exponho as leituras que mais gostei no período. Espero que tenham gostado desta seleção.
PS: Semana Groovy volta em Janeiro de 2015, assim que eu resolver alguns “problemas adoráveis”. ;)
Boa tarde Kico, tem algum livro acerca de NoSQL que me possa recomendar?
Oi Pedro, o Martin Fowler tem um livro sobre,as não o li para poder falar muito a respeito.
Minha sugestão é que você primeiro de uma analisada nos principais produtos que tenha hoje lendo sua documentação mesmo como fonte inicial de consulta. Assim você poderá ver os diferentes modelos.
Ontem, por acaso, comecei um livro chamado “Graph Databases” que inclusive esta no link deste artigo do projeto github. Pelo pouco que li estou gostando: O assunto são bases de dados baseadas em grafos com foco no Neo4j.
Eu estou desenvolvendo uma tese acerca de bases de dados NoSQL do tipo Column-Family. Já comecei a ler o livro de Martin Fowler e parece-me ser muito interessante com vários exemplos práticos e que explora os vários conceitos relacionados com o NoSQL
Eu praticamente parei de ler ficções, mas se Stephen King faz parte da formação literária de uma pessoa, posso dormir tranquilo porque não tenho essa lacuna. Ela foi preenchida há muito.
Eu vi partes do filme baseado em “Misery”, mas nunca li tal livro. Do mesmo autor li “Carrie”, “O iluminado” e “Zona morta”. Bastou. Se você gostou de “Misery” por expor o processo criativo do autor, talvez goste de “A ilustre casa de Ramirez”, de Eça de Queiroz. Quando descobri esse livro descobri junto que tudo está errado no processo em que as escolas nos obrigam a ler obras clássicas da literatura luso-brasileira. Sorte minha que obras de Stephen King e Robin Cook caíram cedo no meu colo, me ensinando primeiro a gostar de ler, e permitindo mais tarde que eu devorasse livros de Eça de Queiroz e Machado de Assis.
Mas como eu disse, perdi muito do interesse por obras de ficção. A única que tem prendido minha atenção ultimamente tem sido a série “Os filhos da terra”. A história, envolvendo nossa espécie (homo sapiens) e neandertais se passa cerca de 20 mil anos atrás. Diz a lenda que a autora se baseou em muitos estudos arqueológicos e antropológicos para escrever a obra. Como o primeiro volume se foca quase completamente nos neandertais, o livro não tem diálogos. Mas nem de longe isso deixa a leitura enfadonha. Muito pelo contrário, é muito interessante ver como os neandertais conseguiam manter a estrutura social, envolvendo organizar a vida diária, planejar caçadas, realizar cerimonias religiosas, sem a fala. Recomendo muito a leitura.
Uai Paulo, este não conhecia! Vou procurar para por no topo da minha pilha. Valeu pela dca!