O framework “Maria vai com as outras”

“Sabe Kico, eu acho Grails muito legal, mas fico receoso em usá-lo no meu novo projeto porque não é um framework muito popular. O que você acha disto?”. Escuto esta pergunta umas 4 ou 5 vezes por semana. Então resolvi me aprofundar nesta questão e, como resultado, surgiu este post, que não deve ser lido como algo específico sobre Grails, mas sim meus pensamentos aplicados a qualquer tecnologia “nova” ou “menos popular”.

Definição de popularidade

A definição mais ingenua seria “aquilo que é muito usado” porque só leva em consideração a quantidade, ignorando completamente “quando” e “onde”.

Muitas vezes escuto a seguinte frase: “tecnologia X não é muito popular, pois não conheço muitas pessoas que a usam”. É um argumento idiota: basta pedir ao sujeito que saia um pouco da sua zona de conforto e pesquise direito antes de falar bobagem. 90% dos profissionais com quem lido trabalham com Java. Isto quer dizer que .net seja impopular?

Outro bom contra-exemplo: Cobol. Não conheço nenhum programador COBOL, mas um estudo de 2007 da Gartner descobriu que 75% (SETENTA E CINCO PORCENTO) das aplicações corporativas eram escritas em… bem: Cobol.

Sendo assim, antes de pensar na popularidade de uma tecnologia, remova as suas impressões pessoais sobre o assunto.

Popular então é algo que possua um grande número de usuários em um certo domínio em um dado momento. Ok, uma definição mais completa, mas que não adiciona nada (ao menos pra mim), e que levanta a seguinte questão:

Qual o grande “ganho” da popularidade?

Mais gente pra falar a respeito e maior suporte da “indústria”. Além disto, também há aquele sentimento imbecil de que “se é muito usado, é porque deve ser muito bom”.

Gerentes cretinos amam,  pois fica mais fácil encontrar mão de obra e substituir elementos problemáticos. Se você pensa na sua equipe como uma linha de montagem de software, a popularidade de um framework é fundamental.

Pessoalmente tenho nojo desta linha de raciocínio porque só serve para uma coisa: alimentar a mediocridade gerada pela massificação.

É inegável o sentimento de segurança provido pela popularidade de um framework: afinal de contas, peixes muito grandes torcem para que isto ocorra, pois assim conseguem reduzir os custos de produção.

(só pra lembrar, o uso em massa de uma tecnologia acarreta na redução do seu custo que, no caso do software, é a mão de obra, ou seja, você desenvolvedor)

Qual o grande risco da “impopularidade”?

Óbviamente o desaparecimento da tecnologia. Porém este risco só é real se esta for fechada e o acesso a seu código fonte inexistente. Mas como hoje open source domina, no pior dos casos você ainda poderia dar manutenção naquela base de código sozinho. Afinal de contas, migrar de framework em 99,999% dos casos equivale à reescrita completa da aplicação, certo?

O que realmente importa?

Atender bem ao cliente. Não vou usar um framework só porque todas as pessoas “legais” do meu bairro o fazem também, mas sim porque me sinto à vontade com ele e o resultado do seu uso gera um produto cujo nível de qualidade satisfaça (e bem) as necessidades do meu cliente.

Tenho cá minhas dúvidas se realmente é possível atingir a qualidade sem o prazer na execução do trabalho. Eu pelo menos nunca consegui. E outra: se o projeto é seu, por que ficar usando o que não gosta só porque é popular? Pra aparecer bonito na fita?

No final das contas…

Há dois caminhos a serem seguidos: ser pastor ou cordeiro. Escolhi o caminho mais caro que é o primeiro e até hoje não me arrependi. :)

PS: e sobre o Grails?

Bem, no Grails Brasil tem quase 1000 membros inscritos. Tá de bom tamanho pra mim :)

PS2: e o Grails Brasil 2?

Muito provávelmente no final de semana que vêm ;)

13 comentários em “O framework “Maria vai com as outras””

  1. Sabe: o uso de tecnologias “pouco populares” tem uma vantagem: ajuda a identificar na equipe aqueles que correm atrás

  2. “E o Grails Brasil 2?”
    LOL

    Então, eu concordo plenamente com você. Esses dias comecei a brincar com Boo… e vi umas pessoas querendo brincar também só porque tinha sido usado em um dojo do DNA.

    Eu gostei porque lembrava python… mas confesso que eu não teria conhecido se alguém não tivesse falado sobre ele primeiro.

    O chato da impopularidade é ser dificil de achar “mestres” em que se espelhar… mas fodasse, fica testando e brincando e quem sabe não vai ser você o mestre?

    1. Opa,
      eu pessoalmente acho do caralho não “encontrar mestres”, mas encontrar um caminho novo no qual você “se torna um”.

      1. O verdadeiro mestre nunca buscou ser um mestre. Sempre foi um eterno discípulo que de repente se viu rodeado de seguidores. E pra se manter mestre, tem que ser discípulo todos os dias. Tá faltando isso nos dias de hoje e felizmente encontro muito deste princípio na comunidade Groovy e Grails no Brasil e no mundo. Parabéns Mestre Kico!

  3. Grande, Kico!

    Destaco:
    “Não vou usar um framework só porque todas as pessoas “legais” do meu bairro o fazem também, mas sim porque me sinto à vontade com ele” e ” se o projeto é seu, por que ficar usando o que não gosta só porque é popular?”

    Sei muito bem como rolam estas coisas, e pior que é como você falou: muita gente tenta te dizer que o mais popular é o melhor mas só tem 2 coisas a alegar -> 1) é popular 2) por causa disso, tem mais informações disponíveis na internet.

    Pois bem, como você também citou, gente como nós escolhe um caminho “mais tortuoso”, onde quem tem que correr atrás “somos nozes”. Mas aí vai do perfil de cada um, pois sabe-se que aquele profissional mais ‘acomodado’ pode ser aquele que será substituído ou não terá grande destaque lá na frente.

    Ótimo texto, RT com gosto!

  4. Logo logo essa tal “problema” de impopularidade do Grails vai acabar. Cada vez mais vejo colegas comentando que em suas empresas estão começando projetos em Grails.

    Eu fico feliz por ser mais um que está arriscando em algo que é notoriamente maravilhoso. Mantendo o bom ritmo de aprendizado podemos ganhar muito em estar a frente dos novos qe entrarem…

    Vlw Kico.

  5. bernardino

    Sabe, Kiko, uma vez li sobre os caminhos que os cabritos fazem nas montanhas e, os humanos os aproveitam para também fazer a ascensão, ignorando caminhos óbvios que os levarão com mais segurança e por muitas vezes mais rápidos ao topo.
    É assim que vejo os desenvolvedores pragmáticos que fixam raízes em tecnologias populares e não veem os paradigmas sendo quebrados.

    Muito bom o Post!

    Sucesso aos desenvolvedores GRAILS!

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